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A Velha Tjikko


Procuraram os homens pela mais antiga das árvores da terra, deparando-se então com a "Velha Tjikko". Que decepção para os megalomaníacos de plantão, não tinha ela mais do que quatro ou cinco metros. Baixote, carcomida pelo tempo e destorcida pelo vento. Não venderia muita revista, pensaram eles, e grandes matérias não se fariam a seu respeito, as pequenezas não atraem grandeza.

Um velho senhor viajou horas e mais horas para chegar ao local da descoberta, homens gostam destes encontros com passados distantes, passam a  ideia de que a eternidade não é um devaneio tão insano assim.

Ao chegar lá, sentou-se a sua frente, como se tivesse encontrado um grande amigo de épocas passadas, ou a si mesmo. Nada havia de especial nela, para quem não conhecia sua história. Todos são iguais por fora, pensou, a distinção é mais profunda. 

Admirou-a então, por instantes infinitos de tempo parado. Quão comum era ela aos olhos! Podia ter sido qualquer coisa. 

Podia.

Podia ter virado enfeite de Natal, como suas irmãs, e tido crianças saltitantes a sua volta, descobrindo presentes e sorrisos. Podia ter sido lenha, e teria aquecido muito bem quem se pusesse diante de suas chamas. Podia ter virado móvel, uma cadeira ou bidê de canto, quem sabe? Não haveria madeira para mais do que isso. 

Podia ter virado papel, feito folha e carregado histórias, mas não chegaria aos pés de seus nove milênios de história, impressa em raízes.

Poderia ter sido tanta coisa, mas foi árvore. Sentado diante daquele ser milenar, o velho senhor, pensou em tudo que poderia ter sido, mas era apenas homem já velho, tal qual árvore, exceto que não se contariam histórias sobre seus anos.

A vida estava ali, em forma de cinco metros de tronco e folhas, e percebeu o quão frágil ela era. Bastava um lenhador desavisado e não haveria história. Como saberia o pobre homem que seu machado cortava as eras, se a diferença estava nas raízes?

A diferença estava nas raízes, pensou. E partiu, sendo homem, sendo velho, sendo árvore, deixando para trás a Velha Tjikko, que tantos dele havia visto em seus incontáveis dias



Texto inspirado pela Old Tjikko, a mais antiga das árvores do planeta.

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