Pular para o conteúdo principal

A Torre, o Louco e o Eremita.


Tenho ansiado por ser poesia, me fundir ao intangível do imaginário, ser incógnita, inquietude. O universo pôs diante de mim a torre quebrada de Babel, e já não há convicções ou caminho certo posto a mesa.

Queria eu ser o Louco, afinal, não é a vida um infinito de finitudes? Quando se chega ao fim, não estamos de volta ao início? Não é a estrada feita de vazios?

Mas vejo-me Eremita, a vagar e divagar ao encontro de um espelho que reflita mais que pele e mentiras. Procuro uma ponta solta de mim mesmo, uma ponta solta de alma, a que possa me agarrar e desfiar, até que nada reste.

Tendo sido feito da poeira de estrelas, como dizem uns, não devia eu encontrar no céu algum acalento para toda essa dor? Procurei em seu silêncio as resposta para perguntas desconhecidas, me fiz escravo de sua grandeza distante, roubei-me do desejo de ser mundo.

Percebo agora que das cartas dadas, minhas eram as mãos. Que fiz voz o que era desejo desarraigado, que de tronos invisíveis povoei as profundezas do meu âmago. 

Sigo Torre, sigo Louco, sigo Eremita, sigo estranho, em chão de estranhos.






Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A Culpa é das Estrelas – Sobre amar, morrer e ser lembrado

Acabei de assistir A Culpa é das Estrelas e confesso sem vergonha alguma, que algumas lágrimas ainda insistem escorrer rosto abaixo. Já ouvi pessoas dizendo que homem não chora ou que “é só ficção”, “é só um livro”, mas não é. Cinema, literatura, música e todo tipo de arte são feitos de sentimentos, são feitos do que os lábios não conseguem dizer mas o coração não consegue guardar, e isso, meus amigos, é a essência da vida, aprender com o sentimento dos  outros. Logo no inicio do filme, ao ser instigado a falar sobre seus medos, Augustus Waters diz a seguinte frases: - Meus medos? Ser esquecido. É, eu quero ter uma vida extraordinária. Quero ser lembrado, eu diria que meu único medo é não conseguir fazer isso. Ser esquecido, no final das contas, é o medo de muitos de nós. Desde pequenos, na escola, no meio das crianças que brincam na rua, tentamos ser notados, aceitos, destacados dos demais e isso é normal, todos queremos ser lembrados. O problema, é que esquecem...

Um texto sobre teatro

Eu queria ir mais ao teatro. Essa é uma daquelas conclusões a que se chega sem saber muito bem de que forma, você apenas acorda com uma vontade insana de ir mais ao teatro. E é isso, nada de grandes visões com esse texto, não tenho nenhum segredo para contar, nada aqui vai mudar a sua vida, só queria dizer que queria ir mais ao teatro, achei que era importante. Já acordou com a sensação de ter dormido por tempo demais? Como se tivesse ido para a cama ontem e acordou dez anos depois? Você de repente percebe que as coisas não estão onde você deixou na noite passada, as paredes estão mofadas, tem teias de aranha no teto, plantas mortas na janela e você fica se perguntando que diabos aconteceu, por quanto tempo você permaneceu adormecido? É uma sensação estranha, essa. Mas o texto não é sobre isso, é sobre minha vontade de ir ao teatro. Assisti meses atrás uma peça sobre os amores de Machado de Assis, um monólogo, para ser mais preciso. Monólogo, é assim que se chama uma peça de u...

O maior Idiota do mundo

Quando o Coração chegou ao consultório, Dr. Facundo ainda não havia chegado. Ansioso, como sempre, sentou-se em um pequeno sofá na sala de espera, de frente para a secretária, dona Eunice. A espera chegou ao fim alguns minutos depois, quando o doutor entrou na sala abruptamente. Era um homem alto, com seus cinquenta e poucos anos, e o que lhe sobrava em altura, faltava em cabelo.  - Desculpem o atraso, o trânsito estava uma loucura, vamos entrando. A sala de atendimento era simples e aconchegante, com apenas uma poltrona, um divã de couro marrom estofado e uma mesinha de centro. O Coração foi logo se acomodando, enquanto Dr. Facundo tirava um gravador e um bloco de notas de dentro da pasta. - E então, Coração, certo? Me fale um pouco sobre você, porquê resolveu me procurar? - Bom, estou passando por uma crise, doutor, me sentindo o maior idiota do mundo. Foi a Razão que me indicou o senhor. - Entendo, algum motivo aparente para estar sentindo-se assi...