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Mostrando postagens de 2016

Sobre sorvete de milho e mudanças

Ontem eu comi sorvete de milho, eu só fiz isso duas vezes durante a minha vida, e ontem foi a segunda. Lembro que da primeira vez que provei o dito cujo, achei uma das coisas mais repugnantes da face da terra, quase um sacrilégio para a comunidade de adoradores de sorvete. Mas ontem ele estava lá de novo, bem na minha frente, e por algum motivo desconhecido do universo, eu comi. E sabe o mais engraçado? Não achei tão ruim assim dessa vez, e veja bem, não estou dizendo que é bom, apenas não é tão tuim, talvez na próxima vez eu até goste. Mas o ponto aqui não é o sorvete de milho, o ponto é que esse evento me fez lembrar que a gente muda o tempo inteiro. Minha essência continua a mesma, mas eu mudei. Sabe o que tá me incomodando? Gente que não deixa a gente mudar. Seria legal se pudêssemos ser programados com um conjunto de crenças e certezas assim que nascêssemos e ao atingirmos nossos setenta ou oitenta e tantos anos, após a nossa morte, constatassem que elas ainda estavam lá,

Precisamos falar de amor

Ninguém me disse que o amor adoece se não for bem cuidado. Amor não "acaba" de uma hora para outra, ele simplesmente adoece, vai perdendo as forças, o brilho dos olhos, a vontade de viver, e morre. Processo longo, doloroso, difícil de ser curado. Esse é aquele tipo de coisa que não se aprende na escola. "Bom dia pessoal, hoje vamos aprender como cuidar do amor", não seria de todo mal. Até encararia as aulas de exatas com mais tranquilidade depois disso. Amor de verdade não tem fim. Quem disse? Amor de verdade tem fim, sim. Quem foi que deu conotação pejorativa para o nosso adeus? Amor de verdade diz adeus, e o diz com antecedência. Nós é que não percebemos. É proibido dizer um "eu te amo" sucedido de um "adeus"? Não ensinaram essa regra na escola. Antes de P ou B, usasse M. Antes de "adeus" não se usa "eu te amo". Amores de verdade também partem. Alguns até voltam. O amor é superestimado. Só acho. Tem toda ess

A Velha Tjikko

Procuraram os homens pela mais antiga das árvores da terra, deparando-se então com a "Velha Tjikko". Que decepção para os megalomaníacos de plantão, não tinha ela mais do que quatro ou cinco metros. Baixote, carcomida pelo tempo e destorcida pelo vento. Não venderia muita revista, pensaram eles, e grandes matérias não se fariam a seu respeito, as pequenezas não atraem grandeza. Um velho senhor viajou horas e mais horas para chegar ao local da descoberta, homens gostam destes encontros com passados distantes, passam a  ideia de que a eternidade não é um devaneio tão insano assim. Ao chegar lá, sentou-se a sua frente, como se tivesse encontrado um grande amigo de épocas passadas, ou a si mesmo. Nada havia de especial nela, para quem não conhecia sua história. Todos são iguais por fora, pensou, a distinção é mais profunda.  Admirou-a então, por instantes infinitos de tempo parado. Quão comum era ela aos olhos! Podia ter sido qualquer coisa.  Podia. Podia

A Torre, o Louco e o Eremita.

Tenho ansiado por ser poesia, me fundir ao intangível do imaginário, ser incógnita, inquietude. O universo pôs diante de mim a torre quebrada de Babel, e já não há convicções ou caminho certo posto a mesa. Queria eu ser o Louco, afinal, não é a vida um infinito de finitudes? Quando se chega ao fim, não estamos de volta ao início? Não é a estrada feita de vazios? Mas vejo-me Eremita, a vagar e divagar ao encontro de um espelho que reflita mais que pele e mentiras. Procuro uma ponta solta de mim mesmo, uma ponta solta de alma, a que possa me agarrar e desfiar, até que nada reste. Tendo sido feito da poeira de estrelas, como dizem uns, não devia eu encontrar no céu algum acalento para toda essa dor? Procurei em seu silêncio as resposta para perguntas desconhecidas, me fiz escravo de sua grandeza distante, roubei-me do desejo de ser mundo. Percebo agora que das cartas dadas, minhas eram as mãos. Que fiz voz o que era desejo desarraigado, que de tronos invisíveis povoei

O maior Idiota do mundo

Quando o Coração chegou ao consultório, Dr. Facundo ainda não havia chegado. Ansioso, como sempre, sentou-se em um pequeno sofá na sala de espera, de frente para a secretária, dona Eunice. A espera chegou ao fim alguns minutos depois, quando o doutor entrou na sala abruptamente. Era um homem alto, com seus cinquenta e poucos anos, e o que lhe sobrava em altura, faltava em cabelo.  - Desculpem o atraso, o trânsito estava uma loucura, vamos entrando. A sala de atendimento era simples e aconchegante, com apenas uma poltrona, um divã de couro marrom estofado e uma mesinha de centro. O Coração foi logo se acomodando, enquanto Dr. Facundo tirava um gravador e um bloco de notas de dentro da pasta. - E então, Coração, certo? Me fale um pouco sobre você, porquê resolveu me procurar? - Bom, estou passando por uma crise, doutor, me sentindo o maior idiota do mundo. Foi a Razão que me indicou o senhor. - Entendo, algum motivo aparente para estar sentindo-se assim?

Conto: Em um bar qualquer, a Morte e o Tempo

Era um bar qualquer, em algum lugar qualquer e nada havia de especial nele. O cheiro de cigarro e álcool estava impregnado na mobília, nas paredes e no ar, mesmo assim agradava aqueles velhos amigos se encontrar ali. Lá dentro, a Morte, um homem alto e magricelo tomava cerveja gelada enquanto olhava para o nada, sem prestar muita atenção ao que acontecia ao seu redor. Tal era sua distração que quando o Tempo chegou ele nem percebeu. - Nem te vi chegar - disse ele enquanto dava uma olhadela em um relógio velho pendurado em uma das paredes encardidas do bar. - Ninguém nunca vê. - Como consegue se atrasar toda vez?  - Desculpa, faz parte de mim, é inevitável. O Tempo puxou uma cadeira e sentou. Usava uma camiseta cinza desbotada, calça jeans e chinelo. Não chamava a atenção nem carregava nenhum tipo de beleza, mas era de uma simpatia ímpar. O barman perguntou o que ele iria beber e dois minutos depois voltou com cerveja e amendoins.  - Como vai o serviço?

Sou desses!

Quer saber? sou desses mesmo. Desses que se entregam fácil, se apaixonam fácil, sorriem fácil e se fascinam pela beleza das coisas simples. Sou desses que fazem piada quando não deveria, que fala sem pensar e quando pensa não fala. Na verdade, sou desses que na maioria das vezes não sabe o que falar. Sou desses que não sabem muito bem o que estão fazendo aqui e, por isso mesmo, se permitem ao máximo. Sou desses que não querem uma vida medíocre, com uma casinha perfeita, filhos perfeitos, cachorro perfeito e gramado perfeito. Sou desses que sofrem de insatisfação crônica e que a cada dia que passa sentem o peso das coisas que ainda não viveu. Sou desses que adoram uma bagunça, que se atrasam e tropeçam no meio da rua mais movimentada da cidade. Sou desses que preferem o caos à calmaria, a emoção à segurança, as aventuras sem hora aos fiapos de alegria com horário marcado. Sou desses que é feliz porque pelo caminho, encontrou gente que também é desses e até casei com u

Que se dane a razão

Leia ao som de Inmigrantes- Graffiti . Já disse certa vez que nosso coração é idiota, mas recentemente, descobri que também pode ser de grande ajuda em sua estupidez. Sabe, as vezes é preciso desligar o botão da razão e deixar que os sentimentos fluam  livremente, pelos dedos, pelos olhos, pelos lábios. Faltam poetas no mundo, faltam artistas, faltam sonhadores. Fazem falta aqueles que são capazes de fugir do mundo “real” e trazer a tona realidades tão únicas quanto os universos que existem em suas emoções. De razão o mundo está cheio, e a maioria dos que dizem possuí-la, na verdade nunca a viram. De pés no chão a terra está lotada, difícil mesmo é olhar pro céu e ver o voo de quem ousou abandonar os manuais e rituais. É difícil explicar pra quem só vê o mundo ao redor de si, mas existe um mundo muito maior do que se vê, do lado de dentro. Uma pena mesmo, é que os poetas calaram as vozes e os pintores deixaram telas em branco, a razão alheia tem matado a arte em su

Eu quero amor, alegria e bom humor

Este é o primeiro texto da minha nova coletânea, Uma música, Um Texto . “Eu quero amor, alegria e bom humor Não é o dinheiro que me trará felicidade Eu quero morrer com a mão no coração Vamos juntos descobrir minha liberdade Portanto esqueçam todos os seus padrões Bem vindo a minha realidade” O mundo parece não entender esse desejo, de ser ao invés de ter, de sentir ao invés de mostrar, de rir ao invés de reclamar. A necessidade de ter um padrão, um uniforme, um guia de vida ou um livro de regras molda a sociedade, e por mais que alguns digam o contrário, seus atos condizem com os fatos. Eu quero amor, alegria  e bom humor. Eu quero um mundo onde a opinião do outro realmente importa, onde os sentimentos alheios façam parte das nossas decisões, pois o egoísmo tem destruído o mundo. Eu quero morrer com a mão no coração. Quero fazer algo em que eu realmente acredite e não ser tachado de louco irresponsável por isso. Eu quero alcançar o mundo, dizer o qu

Fragmentos da Realidade

Quando paro para olhar o mundo ao meu redor, percebo que a cada dia ele faz menos sentido para mim. É como se de alguma forma estivéssemos todos presos nesta enorme roda gigante que simplesmente fica dando voltas e nos colocando para cima e para baixo. Desde os primórdios da humanidade, o homem questiona a sua existência, sua função na terra, seu papel neste grande teatro chamado vida, onde cada um tenta interpretar seu personagem da melhor formar possível para não ser deixado de lado. Eu, honestamente, nunca fiz questão de estar aqui, muito menos de participar. Existe uma guerra dentro de mim, uma batalha constante e emocionante que a cada dia tem um desfecho diferente. Me pego lutando para acreditar no invisível, no imortal, no eterno. Me pego buscando por um fio de sanidade em meio a toda essa loucura, encontro no amor o meu equilíbrio, busco esperança pois os dias são maus e é difícil permanecer em pé. Decido acreditar, mesmo que uma parte de mim me diga