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Sobre sorvete de milho e mudanças



Ontem eu comi sorvete de milho, eu só fiz isso duas vezes durante a minha vida, e ontem foi a segunda. Lembro que da primeira vez que provei o dito cujo, achei uma das coisas mais repugnantes da face da terra, quase um sacrilégio para a comunidade de adoradores de sorvete. Mas ontem ele estava lá de novo, bem na minha frente, e por algum motivo desconhecido do universo, eu comi.

E sabe o mais engraçado? Não achei tão ruim assim dessa vez, e veja bem, não estou dizendo que é bom, apenas não é tão tuim, talvez na próxima vez eu até goste. Mas o ponto aqui não é o sorvete de milho, o ponto é que esse evento me fez lembrar que a gente muda o tempo inteiro. Minha essência continua a mesma, mas eu mudei.

Sabe o que tá me incomodando? Gente que não deixa a gente mudar. Seria legal se pudêssemos ser programados com um conjunto de crenças e certezas assim que nascêssemos e ao atingirmos nossos setenta ou oitenta e tantos anos, após a nossa morte, constatassem que elas ainda estavam lá, intactas. Mas a vida não é assim, nós não somos assim.

Já imaginou, eu, o cara que ontem achava que colocar um pote de sorvete de milho sobre a mesa era motivo para iniciar a terceira guerra mundial, mas que hoje até aceita um pouco, obrigado, vivendo em um mundo onde você não pode mudar? Pois é, seria uma droga. É uma droga.

Ninguém lida muito bem com mudanças, eu acho, ainda mais quando você está acostumado a ver uma pessoa rejeitando o sorvete de milho todo dia, e num determinado momento essa mesma pessoa está atracada de colher no mesmo. É quase traição, é como se tudo que você sabia sobre ela escorresse pela sarjeta e mergulhasse de cabeça no boeiro mais próximo.

Só que existe um detalhe: as pessoas mudam e isso não tem nada a ver com você, cada um sabe os demônios internos que precisa encarar todos os dias. E se parar para pensar, não é só a gente que muda, o mundo muda a cada instante, a terra gira, o sol aparece e vai embora, os pássaros migram e as baleias procuram águas mais quentes para acasalar.

Tudo muda o tempo todo, me deixem mudar.

Por um mundo onde seja permitido não odiar sorvete de milho.

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